terça-feira, 31 de maio de 2011

SEMENTE



A semente germinada hoje

Não necessarimente produzirá frutos

O semeador sabe disso, assim como o coração

Sentimentos são ilusões profundas

Turvam a mente e corrompem o coração

Oh, semente! Que germinas sem piedade

Infértil, castiga o solo com raízes superficiais

Não haverá frutos nem sentimentos

Apenas paz e racionalidade

Fruto perdido, ilusão decaída

Um sorriso, uma flor

Uma gota de dor no solo

A regar a semente.

domingo, 22 de maio de 2011

DESEJOS


O cigarro entre os dedos
O vinho em sua taça
Rubo como sangue vertendo
Saciada a sede
A portuguesa a falar
E os sonhos?
Ah, os sonhos, cativantes momentos
Desejos contidos em jarros de cristal
A espera de um sorriso
E o vinho rubo a aquecer a garganta
Ora pois portuguesa, não estou no Alentejo
Mas estou a cá, no sonho e nos jarros
Acalentado pelo rubor do vinho
Inebriado pela doce fada
Acalentado pelo seco vinho
Os mistérios do Alentejo
Que não vivi, apenas os descobri
Como risos em crianças

quinta-feira, 19 de maio de 2011

TECER


A roca a fiar
O fio da agonia
Fia, fia a roca e o espírito definha.
O fio do destino não tece alegria,
Apenas fia, tece a trama da agonia.
Nada no fio é alegria, agonia...
Apenas o fio tênue da roca
A fiar, a tecer a trama da agonia.
Agonia que afoga a esperança
Do fio da roca a triste alegria.

BANQUETE


O silêncio corta a noite
Um breve silvo, um gemido
A natureza talha a carcaça
Sem piedade é partida, repartida
Do peito a luz renasce
Como fumaça de sangue fresco e pulsante
O espírito migra
Liberto da carcaça em dor
Livre vaga e a cena dantesca fita
Saciada a natureza silência
E o espírito a reverencia.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

CATIVO


Nessa prisão sem muros
Eu sou cativo
Não cometi crimes, apenas amei
Nada de condenação, apenas danação
Sou cativo por necessidade
Cativo de alma, cativo por vontade
Vontade de amar meu Senhor
Senhor que me cativas
Não escravisas, apenas não sorri
E sem sorrir, cativo permaneço
Em sombras permaneço...

sábado, 14 de maio de 2011

Conto : O Menino da bússola e o Errante


Em uma fria e longínqua terra onde a luz do sol é privilégio de poucos, havia um Errante. Seu destino era caminhar sem destino, pois o destino também era privilégio de poucos; nessa triste sina o Errante caminhava.

Sem caminho e sem vida caminhava vazio pelos pântanos lamacentos, envolto em trevas e isso lhe bastava era somente isso que ele conhecia. Nos vilarejos que passava via parcas luzes a iluminar privilegiados, isso não o incomodava as sombras eram sua vida, sentia-se satisfeito por sua vida.

Um dia qualquer como qualquer outro dia na vida de um Errante cruzou um caminho e encontrou um velho senhor sentado sobre uma pedra com um cajado nas mãos, roupas maltrapilhas e sujas, barba longa e grisalha levemente suja por fuligem, ao deparar-se com o velho em sua mente pensou em passar direto, as pessoas das sombras não são confiáveis, mas do nada o velho o olhou fixamente nos olhos e como se le-se sua mente, no mais fundo abismo de seu ser disse-lhe com um sorriso: “- Você é um privilegiado, só não sabes como encontrar o teu destino.”Intrigado com a palavra que ouvira, voltou-se para o velho senhor e perguntou:”- Se és tão sábio como queres aparentar diga-me qual o caminho devo seguir.”

Após um longo silêncio o velho senhor lhe respondeu pausadamente:”- O caminho vem de dentro do ser, tu Errante precisa de uma direção interior. Ouvi dizer que no vilarejo a quatros dias de viagem daqui, existe um menino que possui um objeto mágico único, todos a chamam de bússola de rubi, se fores gentil com o menino ele pode lhe mostrar a direção correta.” “- Baboseiras. Lendas e mais lendas, histórias para crianças, a esperança nessa terra morreu há muito tempo.” Respondeu o Errante seguindo seu caminho.

Dias passaram-se e as palavras do velho senhor não saiam da cabeça do Errante, seria ele um privilegiado? Poderia ser capaz de ter um destino? A dúvida lhe consumia e ele antes um errante pela primeira vez decidiu seguir um caminho, e dirigiu-se para o vilarejo. Os quatro dias tornaram-se uma longa jornada, nunca havia passado por lugares tão sombrios assim, a vida parecia esvair-se a cada respiração, a lama era espessa como visgo e no terceiro dia encontrou uma floresta tão sombria que a própria vida havia deixado o local e pela primeira vez na vida sentiu medo, medo do desconhecido.

Após ponderar por alguns minutos resolveu seguir seu primeiro caminho na vida e adentrou a floresta sem vida, a cada passo dentro da fria floresta, sua própria vida parecia deixá-lo e quando parecia estar tudo perdido um olhar para o céu, como se fosse uma súplica a um deus que não mais vivia, avistou uma suave aurora no céu, a luz tênue cortava a noite escura como bisturi, o céu parecia sangrar em tons de laranja passando ao vermelho. O que seria aquilo, cores em um mundo de sombras, um sopro final, um suspiro e o Errante galgou cada passo para fora da densa floresta sem vida. Ao sair das sombras deparou-se com a luz plena, sim naquele lugar, no pequeno vilarejo havia luz, não para privilegiados, mas para cada ser que ali vivia, as lendas pareciam cair por terra a cada passo do Errante.

Sentindo cada sopro de vida retornar-lhe caminhou em direção ao vilarejo, quando caminhara aproximadamente 500 metros, avistou um menino sentado sobre a sombra de um grande carvalho coberto por uma espessa copa de folhas verdes vívidas, quando passava pelo menino recebeu um sorriso que lhe aqueceu a alma e novamente pela primeira vez o Errante descobriu que tinha alma.

O menino sorrindo disse-lhe:”- Olá Errante fostes corajoso escolheste o caminho da morte para a vida, o que buscas em meu vilarejo”?” O Errante ainda atordoado pela descoberta de sua alma respondeu:” – Venho a procura do Menino com a bússola de rubi, você o conhece?” E com um sorriso capaz de iluminar a mais sombria floresta, o menino respondeu:”- Sim o conheço, mas o que você deseja do menino?

“- Um velho senhor me disse que aqui eu encontraria meu destino, e que o menino da bússola de rubi poderia me ajudar.” Respondeu o Errante. O menino sentindo a dor do Errante que não tinha destino nem luz, pois carregava consigo a própria sombra da floresta respondeu:”- Darei minha bússola a você para que encontre seu destino e em um mês você deverá retornar a mim e relatar o que encontrou.” O Errante não sabia o que dizer e com um gesto de cabeça concordou, o menino em um gesto retirou do pescoço uma corrente dourada como a luz do amanhecer e entregou ao Errante que pode notar uma bússola vermelho sangue, o Errante colocou em seu pescoço a corrente e sorrindo caminhou em direção a floresta sem vida, não antes de desaparecer ouviu ao longe o menino dizer:”- Um mês meu querido amigo, um mês.”

O Errante caminhou por muitas terras e a cada segundo sentia que por onde passava deixava um pouco de luz, seu destino era levar luz as sombras, pois ele mesmo não era mais sombras e sim luz, trinta dias se passaram e no trigésimo dia o Errante estava sob o carvalho sentado em uma pedra, quando avistou o menino correndo pelo campo em sua direção, os dois se olharam e como velhos amigos abraçaram-se longamente, o menino com seu luminoso sorriso e olhar de doçura perguntou:”- Encontrou seu destino Errante? E a resposta foi imediata:”- Sim, meu destino é levar a luz.” E o menino feliz disse:” Então agora podes devolver meu coração, tu já tens um tão luminoso quanto o meu e juntos seguiremos na mesma direção, levando luz e amor aos povos.” Sorrindo o Errante devolveu a bússola de rubi ao menino que ao colocá-la em seu pescoço desapareceu.

Por muito tempo os dois caminharam juntos mas nem sempre as sombras são passivas perante a luz e depois de muito pregarem a felicidade, um duro golpe separou os dois, as trevas tinham sua missão, o Errante desesperado voltou ao ponto onde encontrara o velho senhor e ele ainda permanecia no mesmo local, como se o encontro tivera sido há alguns segundos, sofrendo pela sua perda o Errante perguntou:” – Velho senhor como resgato meu menino das sombras? O velho senhor respondeu vagarosamente:”- Errante o tempo é senhor da razão, tendes paciência pois o verdadeiro amor nunca morre, não há sombras ou trevas que o corrompa, nunca desista de seu amor, busque o menino em cada canto desse mundo sombrio e quando o encontrares diga a ele o quanto o amas e chame-o pelo nome.” O Errante sem entender disse:”- Eu nunca lhe perguntei qual era seu nome, como o chamarei?” O velho senhor respondeu: “ – Você nunca perguntou porque você é o Errante e ele é o menino só o amor é capaz de nomear o íntimo de cada um, não se desespere seu coração saberá o nome no momento certo, agora vá e lute por seu amor.” O Errante sem pestanejar saiu em direção a terra das trevas, para encontrar seu doce amor...