sábado, 14 de maio de 2011

Conto : O Menino da bússola e o Errante


Em uma fria e longínqua terra onde a luz do sol é privilégio de poucos, havia um Errante. Seu destino era caminhar sem destino, pois o destino também era privilégio de poucos; nessa triste sina o Errante caminhava.

Sem caminho e sem vida caminhava vazio pelos pântanos lamacentos, envolto em trevas e isso lhe bastava era somente isso que ele conhecia. Nos vilarejos que passava via parcas luzes a iluminar privilegiados, isso não o incomodava as sombras eram sua vida, sentia-se satisfeito por sua vida.

Um dia qualquer como qualquer outro dia na vida de um Errante cruzou um caminho e encontrou um velho senhor sentado sobre uma pedra com um cajado nas mãos, roupas maltrapilhas e sujas, barba longa e grisalha levemente suja por fuligem, ao deparar-se com o velho em sua mente pensou em passar direto, as pessoas das sombras não são confiáveis, mas do nada o velho o olhou fixamente nos olhos e como se le-se sua mente, no mais fundo abismo de seu ser disse-lhe com um sorriso: “- Você é um privilegiado, só não sabes como encontrar o teu destino.”Intrigado com a palavra que ouvira, voltou-se para o velho senhor e perguntou:”- Se és tão sábio como queres aparentar diga-me qual o caminho devo seguir.”

Após um longo silêncio o velho senhor lhe respondeu pausadamente:”- O caminho vem de dentro do ser, tu Errante precisa de uma direção interior. Ouvi dizer que no vilarejo a quatros dias de viagem daqui, existe um menino que possui um objeto mágico único, todos a chamam de bússola de rubi, se fores gentil com o menino ele pode lhe mostrar a direção correta.” “- Baboseiras. Lendas e mais lendas, histórias para crianças, a esperança nessa terra morreu há muito tempo.” Respondeu o Errante seguindo seu caminho.

Dias passaram-se e as palavras do velho senhor não saiam da cabeça do Errante, seria ele um privilegiado? Poderia ser capaz de ter um destino? A dúvida lhe consumia e ele antes um errante pela primeira vez decidiu seguir um caminho, e dirigiu-se para o vilarejo. Os quatro dias tornaram-se uma longa jornada, nunca havia passado por lugares tão sombrios assim, a vida parecia esvair-se a cada respiração, a lama era espessa como visgo e no terceiro dia encontrou uma floresta tão sombria que a própria vida havia deixado o local e pela primeira vez na vida sentiu medo, medo do desconhecido.

Após ponderar por alguns minutos resolveu seguir seu primeiro caminho na vida e adentrou a floresta sem vida, a cada passo dentro da fria floresta, sua própria vida parecia deixá-lo e quando parecia estar tudo perdido um olhar para o céu, como se fosse uma súplica a um deus que não mais vivia, avistou uma suave aurora no céu, a luz tênue cortava a noite escura como bisturi, o céu parecia sangrar em tons de laranja passando ao vermelho. O que seria aquilo, cores em um mundo de sombras, um sopro final, um suspiro e o Errante galgou cada passo para fora da densa floresta sem vida. Ao sair das sombras deparou-se com a luz plena, sim naquele lugar, no pequeno vilarejo havia luz, não para privilegiados, mas para cada ser que ali vivia, as lendas pareciam cair por terra a cada passo do Errante.

Sentindo cada sopro de vida retornar-lhe caminhou em direção ao vilarejo, quando caminhara aproximadamente 500 metros, avistou um menino sentado sobre a sombra de um grande carvalho coberto por uma espessa copa de folhas verdes vívidas, quando passava pelo menino recebeu um sorriso que lhe aqueceu a alma e novamente pela primeira vez o Errante descobriu que tinha alma.

O menino sorrindo disse-lhe:”- Olá Errante fostes corajoso escolheste o caminho da morte para a vida, o que buscas em meu vilarejo”?” O Errante ainda atordoado pela descoberta de sua alma respondeu:” – Venho a procura do Menino com a bússola de rubi, você o conhece?” E com um sorriso capaz de iluminar a mais sombria floresta, o menino respondeu:”- Sim o conheço, mas o que você deseja do menino?

“- Um velho senhor me disse que aqui eu encontraria meu destino, e que o menino da bússola de rubi poderia me ajudar.” Respondeu o Errante. O menino sentindo a dor do Errante que não tinha destino nem luz, pois carregava consigo a própria sombra da floresta respondeu:”- Darei minha bússola a você para que encontre seu destino e em um mês você deverá retornar a mim e relatar o que encontrou.” O Errante não sabia o que dizer e com um gesto de cabeça concordou, o menino em um gesto retirou do pescoço uma corrente dourada como a luz do amanhecer e entregou ao Errante que pode notar uma bússola vermelho sangue, o Errante colocou em seu pescoço a corrente e sorrindo caminhou em direção a floresta sem vida, não antes de desaparecer ouviu ao longe o menino dizer:”- Um mês meu querido amigo, um mês.”

O Errante caminhou por muitas terras e a cada segundo sentia que por onde passava deixava um pouco de luz, seu destino era levar luz as sombras, pois ele mesmo não era mais sombras e sim luz, trinta dias se passaram e no trigésimo dia o Errante estava sob o carvalho sentado em uma pedra, quando avistou o menino correndo pelo campo em sua direção, os dois se olharam e como velhos amigos abraçaram-se longamente, o menino com seu luminoso sorriso e olhar de doçura perguntou:”- Encontrou seu destino Errante? E a resposta foi imediata:”- Sim, meu destino é levar a luz.” E o menino feliz disse:” Então agora podes devolver meu coração, tu já tens um tão luminoso quanto o meu e juntos seguiremos na mesma direção, levando luz e amor aos povos.” Sorrindo o Errante devolveu a bússola de rubi ao menino que ao colocá-la em seu pescoço desapareceu.

Por muito tempo os dois caminharam juntos mas nem sempre as sombras são passivas perante a luz e depois de muito pregarem a felicidade, um duro golpe separou os dois, as trevas tinham sua missão, o Errante desesperado voltou ao ponto onde encontrara o velho senhor e ele ainda permanecia no mesmo local, como se o encontro tivera sido há alguns segundos, sofrendo pela sua perda o Errante perguntou:” – Velho senhor como resgato meu menino das sombras? O velho senhor respondeu vagarosamente:”- Errante o tempo é senhor da razão, tendes paciência pois o verdadeiro amor nunca morre, não há sombras ou trevas que o corrompa, nunca desista de seu amor, busque o menino em cada canto desse mundo sombrio e quando o encontrares diga a ele o quanto o amas e chame-o pelo nome.” O Errante sem entender disse:”- Eu nunca lhe perguntei qual era seu nome, como o chamarei?” O velho senhor respondeu: “ – Você nunca perguntou porque você é o Errante e ele é o menino só o amor é capaz de nomear o íntimo de cada um, não se desespere seu coração saberá o nome no momento certo, agora vá e lute por seu amor.” O Errante sem pestanejar saiu em direção a terra das trevas, para encontrar seu doce amor...

Nenhum comentário:

Postar um comentário