quinta-feira, 27 de outubro de 2011

CINGIDO



O céu imaculado

O ventre corrompido

A névoa que de tuas asas

Santifica meu ser

Um coração inflamado

Que de gozo traz a alma do jazido

O toque etéreo de teus lábios

E a convulsiva vida

Em meu peito inebrio

Um fulgor traz-me como chama

Que de teus olhos a vida clama

Em teus braços o amor renasce

E em teus lábios eterniza-se

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

REVELAÇÃO




Crave tuas garras em meu peito

Mostre-se como és realmente

Não a Besta que habitas em ti

Mas o ser humano que habitas por trás da Besta

Assuma tua forma real

Sangre-me até a última gota

Revele-se, não mintas

A verdade nos libertará

Consumido pelo gozo alvejado

Arrastar-me-ei pelos frios e opacos pisos da sala

E tu serás a Besta humana contida e escondida

Revelado como natureza, essência

E não mais mentirás ou enganarás

A verdade contida e cada rubro sulco de meu peito

Gritarás mais que a própria Banshee

E eu serei liberto desse amor

terça-feira, 11 de outubro de 2011

AGONIA




Oh, Górgona...

Que de tuas garras frias

O brilho da agonia

Meu peito desnudo vem abater

Destrincha com voracidade

Abrindo o ventre a carne fria

Com desejos que não sacia

Tua marca eternizada

Minha carne garra fria

Que meu hoje toca

Fiando as vísceras feito roca

Cauteriza a alma com brasa fria

Tecendo no reflexo a tênue luz fria

O doce toque da amada agonia

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

ZÉFIRO



Ri na primeira vez que vi teu sorriso

Alvejaste meu coração menino

Fúria era o que me consumia

Ainda restava dor em meu semblante

Enlouquecido eu morria

Lentamente meu coração definhava

Falava de trevas e morte

Era um moribundo em trevas

Rafael o arcanjo surgiu

Nenhuma palavra foi dita

As sombras e a dor esvaíram-se

Nada restou do passado

Docemente as mãos foram estendidas

O oráculo foi descoberto

Deu-me vida

E eu a aceitei de teus olhos

Asas foram me dadas

Lentamente aprendi a voar com meu arcanjo

Muitas vezes procurei entender

E nada me foi esclarecido

Intimamente sabíamos o que era

Delicadamente o dom renascia

Amor o mais belo dom

Finalmente o coração ardia

Esperança e sofreguidão

Rompeu a aurora

Renascidos nos tocamos

Alcançamos o verdadeiro dom

Zéfiro nos abençoou e partimos...

sábado, 27 de agosto de 2011

TORMENTA




Saia de meu corpo
Tormento de minh´alma
Corroa a outro
Afasta-te tormento
Assola-me a tanto
Que já nem sei mais quem sou
O que é vida e o que é morte
A meses agonizo
E a morte não me abraças
Tormento eterno que minh´alma inflama
Em labaredas de tortura
E de tormento já não vivo

domingo, 14 de agosto de 2011

PARALISIA


Haverá dias em que a tristeza em teu coração será tão grande, que a própria tristeza o abandonará. As lágrimas não sulcaram tua face, por temerem o que ocultas por trás de teu sorriso.

A dor será tão insuportável que os espasmos musculares simplesmente não existiram, a agonia em tua alma alcançará níveis jamais imagináveis pelo homem ou sentido por alguém. A morte lhe soará tão propícia mas os Ceifeiros não estaram ao teu lado, passaram caminhando olhando tua alma e a desprezaram.

O sol jamais poderá iluminá-lo nesses dias, pois a sombra que o circunda é tão espessa que a luz não será forte o suficiente para rompê-la e nesses dias quando teu coração dilacerado sentir vontade de gritar, sufocado será pela tristeza que nele já não habitas.


Teu sorriso enganará a muitos, tua felicidade jamais serás questionada, mas teu coração estará a sangrar, sangue negro que verte da ferida aberta, exposta. As lágrimas que tanto anseias e que por temor não vertem estamparam em teu olhar um falso brilho de felicidade.

Ah! Falso brilho que alegrias causas nos outros, mas tece em tu mesmo a teia sufocante e dilacerante de tua própria alma, alma escurecida embevecida em lamento, tormento e sangue.

Lábios nenhum serão capazes de retirar o amargor que carregas em teus próprios, os ímpios o olharam e o desprezo deles será visível, mas tu não sentirás nada, a época de sentir já passou, o vertente negro apagou toda a era de sentimento, somente dor e agonia...

E os olhos que buscas não contemplam como querias, os lábios que anseias, saciam outros lábios e a morte lhe fita com o sorriso sarcástico, como que apreciando sua inexistência e impotência perante o destino que lhe é dado.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

TURBILHÃO



Meus olhos desvendaram

Véu de tua alma

Nua e sem pudor ela se entregará

Teus lábios ardentes

Incendiaram meu corpo

E em um turbilhão de emoções

Tua alma e meu corpo tecerão um novo véu

Meus olhos o fitam

E teus lábios eu desejo

Anjo ardente de alma despida

Caminhas em meus sonhos

E faz tua alma repousar em meu peito

Sacia minha sede

Sede que flameja meus lábios

Lábios que anseiam

O ardor incandescente dos teus

Vem anjo e faz-me renascer.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Conto : O Menino da bússola e o Errante ( parte 2 )


Passaram-se meses e o Errante seguia firme em sua jornada buscaria teu amor até o fim do mundo, absorto em sua missão era incapaz de ver o quanto se fazia necessário pelas terras onde passava; vez ou outra ajudava um ou outro ser e sem notar plantava ali sua luz. Era estranho como um ser semeia luz e mantém-se cego, se olhasse para traz veria um caminho todo iluminado como lamparinas semeadas ao longo de seu caminho.

Essa é a sina de um Errante seguir sem pestanejar, agora tenho um destino pensava o Errante, sua perseverança era inquebrantável. Passou por vales e montanhas, pântanos e desertos, seu destino a terra das sombras onde seu menino estava aprisionado. Parando para um breve descanso em um vilarejo ouviu alguns moradores falarem sobre um novo governante no reino das sombras e sobre seu novo pupilo, seu coração apertou-se e de dor quase chorou, o que seu menino deveria estar sofrendo nas mãos daqueles seres sombrios.

Também ouviu história sobre um homem sábio que sabia despertar a luz nos corações dos homens mas que se encontrava perdido, ignorou esse fato como se fosse mais uma histórias para crianças e concentrou-se em sua missão.

Foi até o Ancião da aldeia e perguntou onde poderia obter respostas para seu questionamento, o Ancião lhe apontou uma montanha e lhe disse: ”- No alto daquela montanha existe um Oráculo se conseguirdes chegar ao cume ele lhe dirá o que precisa para completar sua missão.” “- Obrigado nobre Ancião.” Respondeu o Errante e saindo da aldeia seguiu para a montanha, ao chegar a base da montanha entendeu o que o Ancião queria dizer sobre conseguir chegar ao Oráculo. A montanha era tão alta e gigantesca que amedrontava o mais corajoso explorador. Podia-se ver somente metade de sua imponência o restante era coberto por uma névoa espessa.

Foi então que o Errante encheu-se de coragem e começou sua escalada, nada de trilhas nem mesmo um caminho perigoso, uma subida vertiginosa onde cada movimento era a tênue linha entre a vida e a morte. Com as mãos doloridas, esfoladas pelas pedras e pelo esforço o Errante chegou até uma saliência onde poderia descansar, a noite vinha rápida como uma dama suntuosa foi então que o Errante achou melhor passar a noite na saliência e seguir sua escalada no dia seguinte. A noite foi terrível em seus sonhos ouvia seu menino gritando e pedindo ajuda, mas seria isso verdade ou era apenas seu anseio de salvá-lo? O dia raiou, não que a luz do sol pudesse ser notada em meio a aquela névoa leitosa o Errante levou sua mão até o vão aberto do abismo a sensação era de poder apalpar a névoa de tão espessa, foi então que ouviu uma voz que dizia:” – Vinde a mim Errante e tuas dúvidas serão saciadas.””- Como chego até ti Oráculo, onde estás?””- Salta-te no abismo e entregue sua vida a mim e te darei suas respostas.” Seu coração gelou após quase um dia de subida o oráculo pedia-lhe sua vida como ele poderia entregar sua vida ela já tinha um dono, sua vida era serva de seu menino.

Foi então que com toda força bradou ao Oráculo ”- O que me pedes é demais, subi até aqui e não me atirarei ao abismo por capricho seu, vim atrás de respostas para uma nova vida e não para entregá-la a você.” “- Toda jornada começa com um simples passo. “ Disse o Oráculo:”- Então de o primeiro passo e te mostrarei o que desejas.”Então pondo-se de pé na saliência apoiando sua mão em uma rocha que se projetava da parede da montanha ergueu o pé e pisou no vácuo da névoa e seu pé milagrosamente apoiou-se no chão ouviu-se então uma gargalhada e uma voz:”- Fé, tenha fé e tudo lhe será revelado meu caro Errante.” O Errante então lançou-se ao vácuo e a névoa se abriu como a uma cortina e viu então que pisava sobre uma passarela de pedras que o levaria a outro local, caminhando a névoa foi-se abrindo e então notou que havia uma grande plataforma de pedra entre a névoa como se a montanha tivesse sido cortada ao meio e aplainada no centro da plataforma duas estátuas de pedra a direita uma coruja e a esquerda uma serpente as duas olhavam para um poço de águas cristalinas onde era possível ver o reflexo das duas estátuas, o Errante se aproximou procurando de onde vinha a voz que o chamara mas não viu nenhuma coisa viva somente pedras e névoa.

Já com a guarda baixa por averiguar que não havia ninguém ali ouviu novamente a gargalhada e do centro do poço como em um rodamoinho surgiu uma figura feita de água e névoa e olhando para o Errante disse:”- Sou o Oráculo o que desejas de mim? ””- Quero saber onde fica a terra das sombras para salvar meu menino.” Disse o Errante sem pestanejar. E sinuosa como uma serpente o Oráculo moveu-se e envolveu o Errante e em seu ouvido disse:”- Seu menino? Tens certeza disso o perseverante Errante, sabes por que você ainda não o encontrou?””- Não sei, ninguém sabe onde fica a terra das sombras e o Ancião me disse que você saberia.”disse o Errante. O Oráculo se sentindo testado respondeu:”- Eu sei tudo o que se precisa saber, conheço tua história Errante e conheço a história do mundo, sei onde teu menino está e se quiseres o levarei até lá mas garanto não vais gostar do que verá.” O coração do Errante ficou aflito e angustiado o menino estaria sendo torturado pelas sombras?

“-A entrega de um coração a outro requer cumplicidade e confiança, sinceramente não sei como vocês podem confiar uns nos outros, vocês são seres falhos e sentimentais, não sabem a diferença entre perseverança e teimosia.””- Leve-me até ele.” Disse o Errante com lágrimas nos olhos. O Oráculo então envolveu o Errante e abrindo suas asas de névoa lançou-se no abismo. Tudo tornou-se sombra a escuridão reinava naquele local ajoelhado entra as sombras o Errante se encontrava o ar era pesado e nesse momento teve consciência do presente que seu menino lhe dera entre as sombras ele brilhava, era como um ponto de luz na escuridão total. Então ao olhar para frente vislumbrou um trono gigantesco e nele sentado havia um homem se podemos chamá-lo assim ao seu lado estava o menino não havia mais luz o que antes fora um sorriso iluminador agora era apenas uma sombra.

“O Errante caminhou até o menino o abraçou com todas as forças e o menino o olhou nos olhos como se fosse um estranho e disse:” – Solte-me quem é você?”” –Sou teu Errante a quem você deu vida e eu a minha vida entreguei a você.” Com uma gargalhada aterrorizadora o menino voltou-se para o trono e disse”- Pai, aqui jaz mais um idiota que acredita que a luz e amor devem ser compartilhados. Estou aqui por vontade própria Errante, você foi apenas um erro em minha vida.” O Errante sentiu seu mundo despedaçar como poderia o menino que ele tanto amava dizer aquelas palavras, seria possível haver tanta mentira, teria ele confiado e acreditado em uma mentira, levou luz aos pobres coitados de seu mundo baseado em uma mentira, a alma que habitava seu corpo estava sendo dilacerada como uma carcaça é devorada por feras famintas, sua luz começou a desaparecer e as sombras o envolveram, a dor era insuportável, o ar sufocante lembrou-se de quando era apenas um Errante sem destino e lamentou acreditar em um destino. Estendeu sua mão e viu a morte tocar-lhe o coração, a dor aguda transpassou-lhe a alma dilacerada um último suspiro e tudo ficou branco.

Dias se passaram e o Errante acordou na plataforma de pedra o Oráculo ao seu lado estava e disse:”- Achei que irias dormir para sempre Errante é hora de voltar a caminhar.””- Tudo aquilo foi verdade? Perguntou o Errante. “- Sim meu caro Errante, tudo. Entendo sua decepção mas eu te avisei o homem não é de confiança, mas você já sabia só não queria acreditar, sabia que alguém com verdade no coração não se corrompe pelas sombras.”

“- Bom vou voltar a minha vida de Errante é o que me resta.” Disse o Errante. Com uma risada irônica o Oráculo disse:”- Acha realmente que é tão simples assim? Você semeou corações com tua luz e essas sementes deram frutos.” O Oráculo dissipou a névoa e a terra do Errante apareceu como a um céu cheio de pontos luminosos.”- Esses são teus filhos, Errante, frutos de tua luz, frutos de tua verdade e de teu amor puro, não os decepcione. Vá e siga teu caminho de hoje em diante não serás mais um errante mas será conhecido como Semeador.”

O Semeador olhou com lágrimas nos olhos para o Oráculo com um gesto de cabeça agradeceu e começou sua descida da montanha. A profecia foi cumprida o nome foi dado a quem de fato merecia, nem sempre os homens são honestos, mas sempre haverá luz e amor para ser semeado.

domingo, 31 de julho de 2011

DEVANEIO




Teus olhos amendoados

Que o mundo fita, tanto esplendor

Minh´alma decifra, como a um véu sendo rasgado

Lábios doces que minha mente faz inebriar

Sorriso ardente que os céus faz corar

Sinceridade que um corpo habita

Olho, lábios, mente...

Semente plantada, hoje colhida

Habitas meus sonhos

Que hoje amendoados,

Arde em brasa meu véu do destino

E em um lindo rodopiar

Sua doce magia faz tecer

Fazendo minha mente desejar

Os sonhos que jamais poderei ter

Ah, sonhos infantis

Pureza que faz-me renascer

Em teus olhos amendoados

Quero meus sonhos...

Em teus lábios ardentes

Meus lábios repousar

Inebriar-me

E em teus braços adormecer

*

Dedicado a uma pessoa especial que sabe valorizar uma boa conversa.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Nobre Sina



Morrer...
Nascer...
Morrer consiste em nascer, nascer, nascer...
Nascer consiste em espasmos, sofrimento, lágrimas
Morrer, morrer, morrer...
Entre o nascer e o morrer
Breve silvo que alegra a alma imortal
Um dia apenas, uma brisa ou um tufão
Não importa o que sejas
Apenas seja...
Nasça, silve e morra...
Sua marca seu sibilo eternizado
Na breve agonia do nascimento e doce abraço noturno.
Nasça, sibile, silve
Quantas vezes fizerdes necessário
E nesse doce giro cósmico
Morra, morra infinitas vezes
E sacie meus doces lábios...


terça-feira, 14 de junho de 2011

DESENCONTROS



Nesses desencontros
Onde somente as lágrimas...
Lágrima por testemunha
Que confessam o amor
Que confessam a dor
O coração a sangrar
As lágrimas a rolarem
A dor o desencontro
No fundo a última gota
Intacta repousa
Última gota...
Não de lágrima
Mas de pura Esperança
Esperança que fere
Tece com tuas garras
Causa profunda dor
Esperança que anseia
Romper-se...
Profunda alegria
E lágrimas de felicidade

segunda-feira, 13 de junho de 2011

ENTREGA



A noite fria esvai-se
E o orvalho dormente
Começa a trilhar sua sina
Acaricia docemente a face de sua amada
Deixa-lhe impresso mesmo que momentaneamente
Sua doce trilha de amor
E como prova derradeira de seu amor
Paira sobre o frio abismo
No salto mortal, a fé consumada
Uma única gota, vida primordial
A vida entregue nas mãos da mãe terra
E em seu sacrifício imaculado
Rende honras a tua amada

quarta-feira, 8 de junho de 2011

VALE DAS SOMBRAS


No frio vale das sombras
Onde os sonhos repousam
Lá meu eu habitava
Teu olhar trouxe-me luz
O vale estremeceu
Meus olhos abriram-se
O calor intenso fez-me renascer
Antes envolto em espessa lama
Renascido em fogo
Caminho para a luz
Meu guia... teus olhos
Meu destino teu sorriso
O calor aquece a alma
E com Júbilo hoje flutuo
Como névoa etérea
Envolvo-me revestido de teu calor
O sonho terminou
Teu doce olhar apascentou-me
E não mais conheço as sombras
Seguirei o novo caminho
No vale não mais repousarei

terça-feira, 31 de maio de 2011

SEMENTE



A semente germinada hoje

Não necessarimente produzirá frutos

O semeador sabe disso, assim como o coração

Sentimentos são ilusões profundas

Turvam a mente e corrompem o coração

Oh, semente! Que germinas sem piedade

Infértil, castiga o solo com raízes superficiais

Não haverá frutos nem sentimentos

Apenas paz e racionalidade

Fruto perdido, ilusão decaída

Um sorriso, uma flor

Uma gota de dor no solo

A regar a semente.

domingo, 22 de maio de 2011

DESEJOS


O cigarro entre os dedos
O vinho em sua taça
Rubo como sangue vertendo
Saciada a sede
A portuguesa a falar
E os sonhos?
Ah, os sonhos, cativantes momentos
Desejos contidos em jarros de cristal
A espera de um sorriso
E o vinho rubo a aquecer a garganta
Ora pois portuguesa, não estou no Alentejo
Mas estou a cá, no sonho e nos jarros
Acalentado pelo rubor do vinho
Inebriado pela doce fada
Acalentado pelo seco vinho
Os mistérios do Alentejo
Que não vivi, apenas os descobri
Como risos em crianças

quinta-feira, 19 de maio de 2011

TECER


A roca a fiar
O fio da agonia
Fia, fia a roca e o espírito definha.
O fio do destino não tece alegria,
Apenas fia, tece a trama da agonia.
Nada no fio é alegria, agonia...
Apenas o fio tênue da roca
A fiar, a tecer a trama da agonia.
Agonia que afoga a esperança
Do fio da roca a triste alegria.

BANQUETE


O silêncio corta a noite
Um breve silvo, um gemido
A natureza talha a carcaça
Sem piedade é partida, repartida
Do peito a luz renasce
Como fumaça de sangue fresco e pulsante
O espírito migra
Liberto da carcaça em dor
Livre vaga e a cena dantesca fita
Saciada a natureza silência
E o espírito a reverencia.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

CATIVO


Nessa prisão sem muros
Eu sou cativo
Não cometi crimes, apenas amei
Nada de condenação, apenas danação
Sou cativo por necessidade
Cativo de alma, cativo por vontade
Vontade de amar meu Senhor
Senhor que me cativas
Não escravisas, apenas não sorri
E sem sorrir, cativo permaneço
Em sombras permaneço...

sábado, 14 de maio de 2011

Conto : O Menino da bússola e o Errante


Em uma fria e longínqua terra onde a luz do sol é privilégio de poucos, havia um Errante. Seu destino era caminhar sem destino, pois o destino também era privilégio de poucos; nessa triste sina o Errante caminhava.

Sem caminho e sem vida caminhava vazio pelos pântanos lamacentos, envolto em trevas e isso lhe bastava era somente isso que ele conhecia. Nos vilarejos que passava via parcas luzes a iluminar privilegiados, isso não o incomodava as sombras eram sua vida, sentia-se satisfeito por sua vida.

Um dia qualquer como qualquer outro dia na vida de um Errante cruzou um caminho e encontrou um velho senhor sentado sobre uma pedra com um cajado nas mãos, roupas maltrapilhas e sujas, barba longa e grisalha levemente suja por fuligem, ao deparar-se com o velho em sua mente pensou em passar direto, as pessoas das sombras não são confiáveis, mas do nada o velho o olhou fixamente nos olhos e como se le-se sua mente, no mais fundo abismo de seu ser disse-lhe com um sorriso: “- Você é um privilegiado, só não sabes como encontrar o teu destino.”Intrigado com a palavra que ouvira, voltou-se para o velho senhor e perguntou:”- Se és tão sábio como queres aparentar diga-me qual o caminho devo seguir.”

Após um longo silêncio o velho senhor lhe respondeu pausadamente:”- O caminho vem de dentro do ser, tu Errante precisa de uma direção interior. Ouvi dizer que no vilarejo a quatros dias de viagem daqui, existe um menino que possui um objeto mágico único, todos a chamam de bússola de rubi, se fores gentil com o menino ele pode lhe mostrar a direção correta.” “- Baboseiras. Lendas e mais lendas, histórias para crianças, a esperança nessa terra morreu há muito tempo.” Respondeu o Errante seguindo seu caminho.

Dias passaram-se e as palavras do velho senhor não saiam da cabeça do Errante, seria ele um privilegiado? Poderia ser capaz de ter um destino? A dúvida lhe consumia e ele antes um errante pela primeira vez decidiu seguir um caminho, e dirigiu-se para o vilarejo. Os quatro dias tornaram-se uma longa jornada, nunca havia passado por lugares tão sombrios assim, a vida parecia esvair-se a cada respiração, a lama era espessa como visgo e no terceiro dia encontrou uma floresta tão sombria que a própria vida havia deixado o local e pela primeira vez na vida sentiu medo, medo do desconhecido.

Após ponderar por alguns minutos resolveu seguir seu primeiro caminho na vida e adentrou a floresta sem vida, a cada passo dentro da fria floresta, sua própria vida parecia deixá-lo e quando parecia estar tudo perdido um olhar para o céu, como se fosse uma súplica a um deus que não mais vivia, avistou uma suave aurora no céu, a luz tênue cortava a noite escura como bisturi, o céu parecia sangrar em tons de laranja passando ao vermelho. O que seria aquilo, cores em um mundo de sombras, um sopro final, um suspiro e o Errante galgou cada passo para fora da densa floresta sem vida. Ao sair das sombras deparou-se com a luz plena, sim naquele lugar, no pequeno vilarejo havia luz, não para privilegiados, mas para cada ser que ali vivia, as lendas pareciam cair por terra a cada passo do Errante.

Sentindo cada sopro de vida retornar-lhe caminhou em direção ao vilarejo, quando caminhara aproximadamente 500 metros, avistou um menino sentado sobre a sombra de um grande carvalho coberto por uma espessa copa de folhas verdes vívidas, quando passava pelo menino recebeu um sorriso que lhe aqueceu a alma e novamente pela primeira vez o Errante descobriu que tinha alma.

O menino sorrindo disse-lhe:”- Olá Errante fostes corajoso escolheste o caminho da morte para a vida, o que buscas em meu vilarejo”?” O Errante ainda atordoado pela descoberta de sua alma respondeu:” – Venho a procura do Menino com a bússola de rubi, você o conhece?” E com um sorriso capaz de iluminar a mais sombria floresta, o menino respondeu:”- Sim o conheço, mas o que você deseja do menino?

“- Um velho senhor me disse que aqui eu encontraria meu destino, e que o menino da bússola de rubi poderia me ajudar.” Respondeu o Errante. O menino sentindo a dor do Errante que não tinha destino nem luz, pois carregava consigo a própria sombra da floresta respondeu:”- Darei minha bússola a você para que encontre seu destino e em um mês você deverá retornar a mim e relatar o que encontrou.” O Errante não sabia o que dizer e com um gesto de cabeça concordou, o menino em um gesto retirou do pescoço uma corrente dourada como a luz do amanhecer e entregou ao Errante que pode notar uma bússola vermelho sangue, o Errante colocou em seu pescoço a corrente e sorrindo caminhou em direção a floresta sem vida, não antes de desaparecer ouviu ao longe o menino dizer:”- Um mês meu querido amigo, um mês.”

O Errante caminhou por muitas terras e a cada segundo sentia que por onde passava deixava um pouco de luz, seu destino era levar luz as sombras, pois ele mesmo não era mais sombras e sim luz, trinta dias se passaram e no trigésimo dia o Errante estava sob o carvalho sentado em uma pedra, quando avistou o menino correndo pelo campo em sua direção, os dois se olharam e como velhos amigos abraçaram-se longamente, o menino com seu luminoso sorriso e olhar de doçura perguntou:”- Encontrou seu destino Errante? E a resposta foi imediata:”- Sim, meu destino é levar a luz.” E o menino feliz disse:” Então agora podes devolver meu coração, tu já tens um tão luminoso quanto o meu e juntos seguiremos na mesma direção, levando luz e amor aos povos.” Sorrindo o Errante devolveu a bússola de rubi ao menino que ao colocá-la em seu pescoço desapareceu.

Por muito tempo os dois caminharam juntos mas nem sempre as sombras são passivas perante a luz e depois de muito pregarem a felicidade, um duro golpe separou os dois, as trevas tinham sua missão, o Errante desesperado voltou ao ponto onde encontrara o velho senhor e ele ainda permanecia no mesmo local, como se o encontro tivera sido há alguns segundos, sofrendo pela sua perda o Errante perguntou:” – Velho senhor como resgato meu menino das sombras? O velho senhor respondeu vagarosamente:”- Errante o tempo é senhor da razão, tendes paciência pois o verdadeiro amor nunca morre, não há sombras ou trevas que o corrompa, nunca desista de seu amor, busque o menino em cada canto desse mundo sombrio e quando o encontrares diga a ele o quanto o amas e chame-o pelo nome.” O Errante sem entender disse:”- Eu nunca lhe perguntei qual era seu nome, como o chamarei?” O velho senhor respondeu: “ – Você nunca perguntou porque você é o Errante e ele é o menino só o amor é capaz de nomear o íntimo de cada um, não se desespere seu coração saberá o nome no momento certo, agora vá e lute por seu amor.” O Errante sem pestanejar saiu em direção a terra das trevas, para encontrar seu doce amor...

terça-feira, 22 de março de 2011

CAMINHOS HOSTIS


Muitas vezes caminhei sem destino
Ainda sinto meus sonhos doerem
Incapaz de parar caminhei sem cessar
Cavalguei o tempo seguindo o destino, que destino?
Onde passei cravei raízes que arrancadas sangraram
Nada é suficiente, nada é eterno, somente o caminhar
Caminhei soturnamente, embevecido pelo tempo
Rompi a existência e ao abismo cheguei
Imponente a minha frente, saltei
Somente isso, saltei; não caminho
Torrentes e rajadas de ventos meu corpo suportou
Indo ao fundo o impacto, meu corpo...
Acalentado pelo vento no fundo abismo
Nem destino, nem sonhos
O caminho cessou, o sonho cessou
Descanso e destino
Enfim o encontrei, não o destino nem o descanso
Somente o fundo do frio abismo
Onde o tempo para e o vento sopra
Ungindo meu corpo com sombras hostis
Zombando de minha cruel caminhada
Agonia sem fim...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

PREDADORA


Por trás das folhas, imóvel
Seus olhos fitam as doces gazelas
Ouvidos atentos aos grunhidos e saltos
Os cascos batem o solo e como trovões
Rasgam o ar...
Por trás das folhas, atenta
Zebras a correr ignoram o perigo
Grous coroados saltam e voam
Rasgando o silêncio com seus assovios
Uma algazarra frenética na tarde de verão
O chão negro fervilha de vida
E por um segundo a paz reinaAdicionar imagem
Despreocupada com a predadora
Como um salto no tempo tudo muda
A algazarra torna-se desespero
Faíscas de cascos cortam o negro solo
Olhos se abrem
E a gata acorda espreguiçando-se
No beiral da janela